terça-feira, 7 de junho de 2016

Talidomida

A talidomida foi sintetizada primeiramente como sedativo, em 1953, e causou um dos mais dramáticos episódios da história da medicina. Em 1957, foi comercializada como fármaco sedativo-hipnótico, amplamente vendido em países europeus, asiáticos, no Canadá e América do Sul, tornando-se o medicamento mais vendido na Alemanha Ocidental para o tratamento da insônia (POWELL, 1996; RAJE, 1999). A despeito de sua ampla comercialização nos continentes Europeu e Asiático, este fármaco, em diferentes especialidades farmacêuticas: Kavadon®, Sedalis®, Softenon®, Distaral®, Contergan®, entre outros, não obteve licença da FDA dos Estados Unidos da América para uso neste país (LIMA et al., 2001).
No ínicio da década de 60, a talidomida foi prescrita mundialmente como fármaco sedativo e antiemético, indicada no alívio do mal-estar matinal comum em gestantes (DALLY, 1998), sendo responsável pelo nascimento de milhares de crianças com deformaç
ções congênitas (focomelia), que foram, posteriormente atribuídas ao seu perfil teratogênico (LIMA et al., 2001).
A constatação do perfil teratogênico da talidomida, representou um marco na conscientização do risco da administração de um fármaco em sua forma racêmica quando a razão eudísmica entre os dois enantiômeros (R,S) é desconhecida (LIMA et al., 2001). No caso da talidomida, o enantiômero R é ativo e o S é responsável pelo efeito teratogênico. Entretanto, torna-se inviável administrar o enantiômero R (puro) responsável pela atividade terapêutica, uma vez que este é metabolizado e convertido ao enantiômero S provocando o efeito teratogênico. a, uma vez que este é metabolizado e convertido ao enantiômero S provocando o efeito teratogênico. Assim, após três anos de comercialização e após intensa pressão da imprensa, a talidomida foi retirada do mercado, em 1961, deixando para trás o trágico saldo de 8.000 crianças com malformação congênita em 46 países, inclusive no Brasil. Nos Estados Unidos o medicamento nunca foi liberado, pois a FDA achou que deveria aprofundar a experimentação devido a ocorrências de neurite periférica e alterações tireoidianas (BORGES e FRÖEHLICH, 2003).
Quatro anos mais tarde, em 1965, o médico israelita Jacob Sheskin prescreveu a talidomida como sedativo para pacientes leprosos, observando fortuitamente acentuada redução da dor e do processo inflamatório associado ao leproma, identificando as propriedades antiinflamatórias, até então desconhecidas. Este intrigante perfil antiinflamatório incentivou diversos grupos de pesquisas ao estudo do provável mecanismo de ação relacionado às ações benéficas da talidomida sobre os lepromas. Em 1991, foi demonstrado, em trabalho pioneiro, que pacientes leprosos apresentavam níveis sanguíneos aumentados de um modulador do sistema imunológico, identificado como uma citocina denominada fator de necrose tumoral a (TNFa) (KAPLAN et al., 1991). Estes pesquisadores constataram, posteriormente, a participação da talidomida na inibição seletiva desta citocina, quando expressa em quantidade superior àquela necessária à manutenção do sistema imunológico normal, denotando, portanto, o potencial imunorregulador (LIMA et al., 2001).
Com base na descoberta das propriedades antiinflamatórias e imunorreguladoras da talidomida, a indústria norte-americana Celgene Co. solicitou à FDA sua aprovação para uso no tratamento da hanseníase, concedida em julho de 1998. Marcava-se de forma definitiva o renascimento deste fármaco, que representa, atualmente, um dos principais agentes terapêuticos disponíveis para o tratamento efetivo dos lepromas (CALDERON et al., 1997).
Trabalhos paralelos divulgados por vários laboratórios de pesquisa, demonstram a aplicação terapêutica potencial da talidomida no câncer, interferindo com o processo de angiogênese patológica, na AIDS, mais especificamente no retardamento da replicação do HIV, e no auxílio da perda de peso desordenada de portadores do vírus da imunodeficiência adquirida e do bacilo da tuberculose (LIMA et al., 2001). Adicionalmente, a talidomida representa a primeira terapia disponível nos últimos 20 
para o tratamento de mieloma múltiplo (RAJE, 1999).

Fonte: Revista eletrônica de farmácia; REF - ISSN 1808-0804 Vol. VI (1), 14 - 24, 2009
FÁRMACOS: DO DESENVOLVIMENTO À RETIRADA DO MERCADO; Filipe Galvão FerreiraMichelle Carneiro PolliYoko Oshima-Franco Leonardo Fernandes Fraceto.


Thaynara Albuquerque

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